quarta-feira, 13 de maio de 2009

CANA DE AÇUCAR

A Cana-de-Açúcar no Brasil: objetivos, implantação, apogeu e queda

Plantio em grande escala da cana transformou o Brasil em principal fornecedor de açúcar para a Europa – até chegar a concorrência

Um dos propósitos para a descoberta de novas terras, na época das Grandes Navegações, era a falta de áreas cultiváveis na Europa em que pudessem prosperar espécies de plantas como a Cana-de-Açúcar, cujo produto, o açúcar, era escasso e caro no Velho Continente. Portugal plantava cana nas ilhas de Cabo Verde, Açores e Madeira. Ainda assim, eram poucas as terras apropriadas para a cultura.

Com a Descoberta do Brasil, a Cana-de-Açúcar foi trazida para a América – as primeiras mudas chegaram em 1532, na expedição de Martim Afonso de Souza –, e aqui a planta espalhou-se no solo fértil de massapê, com a ajuda do clima tropical quente e úmido e da mão-de-obra escrava trazida da África. A descoberta dessa nova colônia enriqueceu Portugal e espalhou o açúcar brasileiro – assim como aquele produzido na América Central, por franceses, espanhóis e ingleses – por toda a Europa.

Principalmente por causa das invasões de estrangeiros no Brasil, tornou-se necessário habitar a nova colônia. Para isso, o rei D. João III dividiu as terras pertencentes a Portugal, conforme o Tratado de Tordesilhas, em capitanias hereditárias, a exemplo do que havia sido feito em Madeira e Açores. As capitanias eram doadas pelo rei aos donatários – fidalgos portugueses que, em troca, deveriam povoar, cultivar, desenvolver e defender, principalmente de invasores, as terras concedidas.

A capitania mais importante na época do ciclo da cana era a Capitania de Pernambuco, que pertencia a Duarte Coelho, onde foi implantado o primeiro centro açucareiro do Brasil. Logo se seguiu o despertar da Capitania da Bahia de Todos os Santos – de Francisco Pereira Coutinho – e, com o desmatamento da Mata Atlântica nativa, os canaviais expandiram-se pela costa brasileira.

No entanto, diferentemente do que acontecia nas terras do norte da colônia, no sul, as capitanias de São Vicente (São Paulo) e São Tomé (Rio de Janeiro) sofriam por estarem distantes da metrópole e dos portos europeus. Isso encarecia o transporte do açúcar, mas não impediu que a cultura também se estabelecesse nessas áreas.

A Espanha, grande concorrente de Portugal, além de plantar cana desde 1506, em Cuba, em Porto Rico e no Haiti – suas colônias –, trazia pedras e metais preciosos das terras do Novo Mundo. Porém, com a adoção de medidas portuguesas que asseguravam a liderança lusitana no mercado açucareiro e a descoberta dos tesouros astecas e das minas mexicanas pelos espanhóis, o interesse da Espanha pelos canaviais se amainou.

A maior conseqüência da penetração de metais preciosos das colônias espanholas na Europa foi o aumento dos preços de produtos considerados de luxo. Essa coincidência favoreceu o domínio português sobre a produção de açúcar no século XVII.

Em 1580, com a morte do rei D. Sebastião, a Coroa Espanhola incorporou Portugal aos seus domínios. A união das coroas não fez bem às relações de Portugal com a Holanda, já que os holandeses eram inimigos dos espanhóis. Nessa época, o açúcar brasileiro seguia em embarcações para ser refinado na Holanda, e quem realmente o comercializava eram os holandeses.

Com a interrupção de relações portuárias entre Portugal e Holanda, a idéia de tomar o Nordeste brasileiro tomou corpo na corte holandesa. Apoiados pela Companhia das Índias Ocidentais, empresa fundada em 1621, e pelos Estados Gerais das Províncias unidas (governo da Holanda na época), holandeses desembarcaram no Brasil em 1630.

Passaram 24 anos entre nós, adquirindo tecnologia e experiência nos engenhos e canaviais. Os holandeses foram expulsos em 1654 mas levaram o conhecimento e as técnicas do cultivo da cana para as Antilhas e para a América Central. Essas terras, que ficavam mais próximas da Europa, substituíram o açúcar brasileiro no mercado e a agricultura brasileira recebeu um grande golpe.

O Nordeste já não podia competir no cenário internacional. A vida social, econômica e cultural brasileira passou por uma grande transformação, e a situação só melhorou quando as colônias européias produtoras de açúcar foram sacudidas por revoltas sociais que desencadearam a independência das colônias. Aproveitando-se disso, produtores brasileiros voltaram a ser os maiores fabricantes de açúcar do mundo.

A abertura dos portos, em 1808, e a Independência, em 1822, também beneficiaram a produção. Mas isso não foi suficiente para retomar a posição de dois séculos atrás.

A agricultura da Cana-de-Açúcar vinha sendo prejudicada pela expansão do cultivo da beterraba – da qual também é extraído o açúcar – na Europa; pela distância entre o Brasil e os portos consumidores; e pelo baixo nível técnico da produção.

O século XIX não foi bom para o Brasil, que caiu para quinto lugar na lista de produtores de cana, com apenas 8% da produção mundial. A economia açucareira teve nova queda e o declínio da produção acentuou-se no fim do século, obrigando o Brasil a voltar-se para o mercado interno, que era pequeno e estava fragilizado pela crise do açúcar.

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